Produtos nacionais barateiam, pressionando concorrência mundial devido ao câmbio e aumento da oferta.
O crescimento econômico da China nas últimas décadas tem sido impressionante, tornando o país um dos principais protagonistas no cenário mundial. A China se destaca, principalmente, na produção de eletrônicos, vestuário e produtos manufaturados em geral, dominando grande parte do mercado global.
Como país asiático, o gigante asiático também tem investido em inovação e tecnologia, buscando ampliar sua participação em setores de alta tecnologia. O país do leste tem se tornado referência em diversas áreas, demonstrando seu potencial de se manter como uma potência econômica mundial.
A China como influência na inflação brasileira
No Brasil, a situação não é diferente. A China tornou-se uma força adicional à tendência de queda da inflação de bens de consumo, somando-se aos efeitos do crédito caro na demanda, do comportamento mais estável do câmbio e da normalização da oferta após a superação de gargalos de produção. Segundo a Warren Investimentos, a inflação de bens industriais — um grupo que abrange produtos duráveis e semiduráveis, além de materiais de construção — ficou em 1,09% em 2023, a menor taxa em cinco anos, sendo que os preços chegaram a cair, ou seja, marcaram deflação, em junho (-0,57%), setembro (-0,20%) e novembro (-0,54%).
A China como grande fornecedora de insumos para indústrias nacionais
A China influencia o comportamento da inflação não apenas pela concorrência direta dos produtos finais que estão nas prateleiras das lojas, ou que podem ser importados diretamente nas plataformas de comércio eletrônico estrangeiro. O país é também um grande fornecedor de insumos usados por diversas indústrias, como peças de smartphones, componentes eletrônicos e aço. Os produtos industriais acabados ou intermediários respondem por praticamente tudo o que o Brasil importa da China. No último ano, os preços cobrados pelos produtores (PPI, na sigla em inglês) caíram na China 3%, após a inflação de 4,1% de 2022.
Desafios internos e externos da indústria chinesa
Por trás desse dado estão as dificuldades tanto internas quanto externas da indústria chinesa. No mercado doméstico, a recuperação do consumo pós-pandemia não acontece como esperado, refletindo a cautela associada à queda nos preços dos imóveis, que faz os chineses preferirem poupar a consumir. Já no exterior, o país perde vendas em seus principais destinos comerciais — entre eles, Estados Unidos, Japão e Alemanha —, em razão do esfriamento do comércio pelos juros mais altos e pela substituição da China por outros parceiros nos movimentos de nearshoring — isto é, a busca por fornecedores geograficamente mais próximos — e friendshoring — ou seja, a troca por aliados geopolíticos.
Exportação de deflação pela China
Mesmo com o relaxamento das rígidas restrições da política de Covid zero, a China não conseguiu mais repetir o aproveitamento da capacidade industrial de antes. O excesso de capacidade na indústria de transformação, que três anos antes estava em 21,6%, chegou a 24% na última leitura, referente ao quarto trimestre de 2023. A China passou, assim, a ‘exportar deflação’, contribuindo aos bancos centrais do resto do mundo no controle da inflação. A ajuda chinesa vale ainda mais para as economias emergentes, onde os bens têm, na comparação com os países ricos, um peso maior nos índices de inflação.
Contribuição da China para a desinflação global
Economistas ouvidos pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), incluindo ex-diretores do Banco Central (BC), entendem, porém, que a contribuição chinesa nos próximos passos das autoridades monetárias será limitada. Em outras palavras, não deve ser determinante para acelerar cortes de juros, em economias como o Brasil, ou para antecipar o início de ciclo de flexibilização monetária nos EUA e na Europa. Essa expectativa tem como base o foco dos bancos centrais na inflação de serviços, mais resiliente e cujo comportamento é mais determinado por variáveis domésticas.
China menos influente na dinâmica de preços nas economias desenvolvidas
Segundo Robert Sockin, economista global do Citi, a queda brusca nos preços dos produtos exportados pela China vem contribuindo para a desinflação global de bens. Enquanto as pressões inflacionárias dentro da China continuarem suaves, a economia chinesa provavelmente continuará contribuindo à pressão baixista dos preços globais de bens. No entanto, emenda Sockin, ainda que seja aliada do resto do mundo na convergência da inflação às metas perseguidas pelos bancos centrais, é improvável que a China guie o ciclo monetário global.
Preocupações com riscos geopolíticos nas economias global e local
Há ainda uma preocupação importante dos bancos centrais com os riscos de geopolítica, sendo o mais recente o conflito no Mar Vermelho, que volta a trazer estresse no transporte de cargas marítimo e a elevar os preços de frete. Limita-se, dessa forma, o potencial de redução mais expressiva na inflação de produtos. ‘A preocupação maior, para mim, são os vários riscos de ruptura no cenário geopolítico internacional, como o bloqueio no Mar Vermelho, a eleição presidencial em Taiwan [vencida por partido contrário à unificação com a China], a guerra na Ucrânia e a grande chance de maior instabilidade no Oriente Médio’, afirma o economista Luís Eduardo Assis, ex-diretor de Política Monetária do BC.
Fonte: © CNN Brasil
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