Dia 8 de março, clamor por igualdade, anseio por espaço. Assimétrica em minhas linhas, obra prima retocada, refeita e me refaço.
Mais um ano se inicia e com ele surge novamente o 8 de março, um dia de celebração e luta pelas mulheres. Uma data que representa a busca por mais igualdade e reconhecimento, um dia de voz para todas aquelas que diariamente enfrentam desafios e obstáculos. Um dia para lembrar a importância das mulheres em todas as esferas da sociedade, sejam elas mães, profissionais, líderes ou simplesmente seres humanos em busca de respeito e dignidade.
No entanto, a jornada em direção à equidade de gênero ainda é longa e repleta de desafios para as mulheres. O papel do feminino na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva é fundamental, e as meninas de hoje serão as líderes do amanhã. É preciso continuar lutando pelos direitos das mulheres, garantindo que todas tenham as mesmas oportunidades de desenvolvimento e realização. A força das mulheres é inegável, e juntas são capazes de superar qualquer adversidade e transformar o mundo ao seu redor.
Reflexões sobre a Mulher: clamor por igualdade
No espelho, sou cubista, obra inacabada, universo egoísta. Perdida em frivolidades, sou caridosa, sou consumista, preciso reencontrar o meu eu protagonista. Dez anos atrás, velha me senti; dez quilos a menos, magra nunca me vi. Cabelos, pele, em guerra comigo, O corpo ofensivamente normal, meu íntimo inimigo.
Estatura em sapato alto, uma miragem, cor da pele ajustada, viva a maquiagem, nas pernas, a utopia em busca incessante, nas formas, a desarmonia, a luta constante. Na voz, o silêncio, ecoando a solidão, nas curvas, a insensatez, o desespero por direção. No sorriso, a esperança mais pura, no cérebro, a nudez mais dura.
Nos olhos, o oceano, profunda rasura, encarnadas em mulheres, somos erro e releitura. Na roda da moda, giramos, perdidas, camuflando as imperfeições, escondendo as feridas. De pixels somos feitas, em telas, iludidas, mulheres tão diversas, cada vez mais parecidas. Intactas subversões, essências corrompidas, somos Arte, resistência, somos beco sem saída.
Todas as nossas selfies são solidões admiradas, Em imagens retocadas, com legendas replicadas. Nas telas, refletidas, mulheres aprisionadas, na vida real, escondidas, forças amordaçadas. Não sou eu que falho, é a sociedade que erra, na pressa de padronizar, institui a guerra. Não é a aparência que nos condena, mas a voz que silencia, essa sim, nos destrói e envenena.
Nos perfis, esperanças vãs de pertencer, aos olhos alheios, nas profundezas do nosso ser. Em redes e teias, delicadamente nos perdemos, escondendo as cicatrizes, em caminhos que não escolhemos. E aqui a minha revelação mais bela e mais certeira: a mulher oprimida, em nossa era derradeira, sou eu, és tu, somos todas – inimigas e parceiras, lutando contra a maré, despedaçadas e inteiras. Minhas linhas, obra prima retocada, assimétrica em minhas linhas, obra prima, refeita e me refaço, intervencionamente, velha me senti, guerra comigo, uma miragem, desarmonia, busca incessante, insensatez, furada, profunda rasura, mulher aprisionada, forças mordaçadas, esperanças vãs.
A luta pelo reconhecimento feminino
► *FERNANDA VAN DER LAAN É PSICÓLOGA / @fernandissima
Fonte: © TNH1