Fugitivos negros buscavam liberdade no antigo assentamento espanhol, uma comunidade livre que prometia direitos e proteções em busca de uma sociedade justa.
No mês de novembro de 1699, uma embarcação atracou nas proximidades de Saint Augustine, uma região da época fortemente marcada pela escravidão. A chegada da embarcação foi acompanhada por autoridades locais que logo perceberam a presença de escravos a bordo, trazidos para serem vendidos na cidade.
Os escravos recém-chegados enfrentavam um destino incerto, privados de sua liberdade e submetidos a condições desumanas. Muitos desses indivíduos eram forçados a abandonar suas terras natais devido ao domínio dos europeus, que frequentemente utilizavam o catolicismo como justificativa para sua exploração.
Os desafios dos fugitivos em busca de liberdade
Os viajantes eram fugitivos negros que conseguiram escapar da escravidão enquanto estavam em uma plantação britânica nas Carolinas, ao norte do país. Após a chegada em Saint Augustine, dirigiram-se ao centro da cidade em busca de liberdade. Eles procuraram o governador da cidade para pedir proteção e expressaram o desejo de se converter ao catolicismo, pois ouviram dizer que o assentamento espanhol era um santuário religioso que oferecia liberdade aos anteriormente escravizados que se convertessem.
A jornada perigosa rumo à liberdade
A viagem em busca da liberdade era extremamente perigosa e poderia durar uma semana ou mais. Os fugitivos atravessaram pântanos e águas costeiras repletas de perigos como jacarés, panteras e cobras venenosas. Enfrentavam também a hostilidade de caçadores de escravizados, a escassez de comida e água, tornando a jornada ainda mais desafiadora. No entanto, a promessa de liberdade os impelia a arriscar tudo.
Os nativos americanos Yamassee que habitavam a região ajudavam os fugitivos, estabelecendo uma espécie de ‘Ferrovia Subterrânea’. O grupo de viajantes originais de canoa foi pioneiro em pedir asilo religioso em Saint Augustine, lançando as bases para uma comunidade mais igualitária.
A visão diferente da escravidão espanhola
Ao contrário do sistema de escravidão baseado na raça das colônias britânicas, a Espanha tinha uma abordagem diferente em relação à escravidão. Seguindo a antiga lei romana, qualquer pessoa poderia ser escravizada sob certas condições, mas os escravizados tinham direitos e proteções, incluindo a possibilidade de recuperar a liberdade por meio do serviço militar ou da conversão ao catolicismo. A política espanhola, voltada para a defesa do território contra os britânicos, influenciou a decisão de acolher os fugitivos em Saint Augustine.
A defesa do território livre em Saint Augustine
Em 1693, o governador de Saint Augustine construiu o Forte Mose, onde os negros livres desfrutavam dos mesmos direitos que seus vizinhos europeus. Liderados por Francisco Menéndez, um ex-escravizado, os residentes protegiam o território e participavam da vida militar, desempenhando um papel fundamental na defesa contra os britânicos. O Forte Mose representava um refúgio de liberdade e igualdade em um cenário de opressão.
O legado da luta pelos direitos civis em Saint Augustine
Após a venda da Flórida aos britânicos, os residentes de Saint Augustine, incluindo os negros livres, tiveram que deixar o local, seguindo para Cuba em busca de liberdade sob o domínio espanhol. No entanto, o renascimento da comunidade livre em Lincolnville após a Guerra Civil Americana mostrou a resiliência e a determinação dos ex-escravizados em construir uma vida digna. O bairro, palco de lutas pelos direitos civis, honra os desafios enfrentados pelos ativistas e moradores locais ao longo da história.
Uma celebração da liberdade e da igualdade
O Museu Fort Mose e o Museu e Centro Cultural de Lincolnville preservam a história da luta pela liberdade e igualdade em Saint Augustine. A reconstrução do Forte Mose e as exposições interativas destacam a importância do primeiro assentamento negro livre na América e a influência dos residentes na promoção dos direitos civis. O legado deixado pelos moradores de Lincolnville e pelos ativistas dos direitos civis continua vivo, celebrando a coragem e a determinação daqueles que lutaram por um futuro mais justo e igualitário.
Fonte: © G1 – Globo Mundo