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Escritora espanhola, idosa de 87 anos, explora motivo do abandonamento em livro “As Abandonadoras”. História de famosas e anônimas mulheres, incluindo uma revolucionária italiana e funcionárias domésticas. Revisita microabandonos e crítica social, ganhadora do Nobel e do Oscar. Suas pesquisas profundas contam histórias de abandonamento em maternidades, tratamentos e prêmios, incluindo o método ensino de 87 anos, pobre escritora recebedora do Prêmio Nobel de Literatura.
No século passado, a escritora Ana Maria Machado desenvolveu um projeto inovador de literatura infantil que se tornou referência para mulheres abandonadoras que buscam inspiração para suas obras.
Em suas histórias, Ana Maria Machado aborda temas sensíveis, como o abandono de filhos, de forma delicada e emocionante, tocando o coração de leitores de todas as idades.
Explorando as complexidades das mulheres abandonadoras
Em 2007, a renomada escritora Doris Lessing foi laureada com o Prêmio Nobel de Literatura, aos 87 anos, tornando-se a mais idosa a receber essa prestigiada honra literária. Enquanto isso, a talentosa atriz Ingrid Bergman brilhava com quatro Oscars em sua estante, fruto de suas atuações memoráveis. O que une essas mulheres, além de suas conquistas profissionais, é a ausência marcante de filhos em suas vidas. Embora tenham dado à luz, também deixaram suas proles para trás, levantando a intrigante questão: ‘Que tipo de mãe abandona seu filho?’.
Essa indagação foi o ponto de partida para a jornalista e escritora catalã Begoña Gómez Urzaiz, que recentemente lançou o livro revolucionário ‘As Abandonadoras’ (Zahar) no Brasil. Em sua obra, Begoña mergulha em um profundo estudo das histórias de mulheres notáveis e suas razões para o abandono, desvendando um lado pouco explorado dessas figuras. Realizando uma pesquisa minuciosa, a autora, mãe de duas crianças, se viu confrontada com a necessidade de cometer ‘microabandonos’, afastando-se temporariamente de sua família para se dedicar ao projeto.
Durante uma breve passagem pelo Brasil, Begoña compartilhou sua experiência, revelando como seus filhos logo associaram seu computador a um adversário, simbolizando a difícil conciliação entre maternidade e trabalho. Ao narrar a vida dessas mulheres através de suas jornadas maternas, a autora lança luz sobre um aspecto muitas vezes negligenciado de suas trajetórias, desafiando convenções e preconceitos arraigados.
Em seu livro, Begoña não se restringe a relatos de figuras públicas que priorizaram suas carreiras em detrimento da maternidade. Ela também aborda a dimensão econômica e social do abandono materno, destacando casos de mulheres latinas que migraram para a Europa em busca de trabalho, muitas vezes desempenhando funções de cuidado para famílias alheias. Essa abordagem ampla e sensível revela nuances complexas do abandono materno, enriquecendo o debate sobre o papel das mulheres na sociedade contemporânea.
Ao assistir ao filme ‘Que horas ela volta?’ (2015), dirigido por Anna Muylaert, somos confrontados com a história de Val, interpretada por Regina Casé, uma nordestina que se muda para São Paulo em busca de melhores oportunidades para sua filha Jéssica, que permanece em Pernambuco. A trama aborda as relações entre empregadas domésticas e as famílias para as quais trabalham, lançando um olhar crítico sobre as dinâmicas de poder e afeto nesse contexto.
Assim, através de uma abordagem multifacetada, que mescla pesquisa profunda, reflexão pessoal e análise social, Begoña Gómez Urzaiz nos convida a repensar nossas concepções sobre o abandono materno e as complexidades das mulheres abandonadoras. Em um mundo onde as expectativas e pressões sobre as mães são intensas, sua obra oferece uma perspectiva única e provocativa, enriquecendo o debate sobre gênero, trabalho e família.
Fonte: © G1 – Globo Mundo