Cientistas de UFPE registram branqueamento de corais (40-60m, litoral Norte) na mesofótica, primeira vez em zona subaquática brasileira. Espécies coralinas da cadeia montanhosa submersa mutuamente benéfica, oferecem nutrientes, simbiose, energética. Temperatura oceânica aumenta, risco de espécies ameaçadas, possível salvação pela onda nutritiva.
Recentemente, pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) divulgaram um estudo alarmante sobre o branqueamento de corais. Foi observado um aumento significativo no branqueamento de corais em áreas profundas do oceano, entre 40 e 60 metros de profundidade, ao longo do litoral brasileiro. Esse fenômeno, causado principalmente pelo aquecimento das águas, representa uma ameaça grave para a biodiversidade marinha.
O branqueamento de corais é um dos principais indicadores dos impactos do aquecimento global nos ecossistemas marinhos. Além disso, a queda de cores nos corais pode resultar em consequências devastadoras para a vida marinha. É crucial que ações sejam tomadas para proteger esses preciosos organismos e garantir a preservação dos recifes de corais para as futuras gerações.
Brilho e Desafios: Branqueamento de Corais na Zona Mesofótica
Com o apoio da organização não governamental WWF-Brasil, uma expedição científica realizada em abril nos cinco bancos (topos) da cadeia montanhosa submersa Norte, localizada próxima à costa dos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte, testemunhou o branqueamento em populações da espécie Agaricia fragilis que habitam a 60 metros de profundidade. O branqueamento, um fenômeno alarmante, afetou as seis espécies registradas nesses bancos, incluindo o coral-de-fogo Millepora alcicornis, que surpreendentemente foi encontrado habitando a profundidade da chamada zona mesofótica.
‘Acreditávamos que essa espécie só ocorria em águas rasas. E nos deparamos com um recife impressionante de coral-de-fogo no banco Leste, entre 50 e 43 metros de profundidade. Provavelmente é o maior banco desse coral em todo o Brasil’, revela o pesquisador da UFPE, Mauro Maida. ‘Nunca tínhamos presenciado algo assim antes, e quando vimos, estava ocorrendo o branqueamento.’
A zona mesofótica é uma região oceânica um pouco mais profunda, onde a luz solar ainda alcança, porém de forma menos intensa, e onde a temperatura da água é mais fria em comparação à superfície. As outras quatro espécies registradas nos bancos do Norte, Montastrea cavernosa, Siderastrea stellata, Meandrina brasiliensis e a ameaçada Mussismilia harttii, também exibiram sinais de branqueamento.
Os corais, seres marinhos invertebrados, obtêm grande parte de sua nutrição por meio de uma simbiose benéfica com as algas zooxantelas. Essas algas, responsáveis pelas cores vibrantes dos corais, fornecem nutrientes essenciais através da fotossíntese. Contudo, quando a temperatura do mar aumenta, as algas abandonam os corais, deixando-os descoloridos e vulneráveis. Mesmo sobrevivendo por um tempo se alimentando de micro-organismos, a saúde dos corais é comprometida, tornando-os suscetíveis a doenças e morte.
Uma nova onda de branqueamento global está afetando recifes de corais em diversas partes do mundo este ano, e no litoral nordeste do Brasil, o fenômeno vem sendo observado desde março. Mauro Maida, que conduz expedições aos bancos do Norte e da cadeia vizinha de Fernando de Noronha desde 2016, relata que nunca havia presenciado o branqueamento de corais na zona mesofótica da região.
‘Os recifes mesofóticos eram considerados menos suscetíveis ao aquecimento global, mas estamos vendo que o impacto chegou até as profundezas. Esse El Niño foi tão intenso que elevou a temperatura até o fundo do mar’, explica o pesquisador. O branqueamento de corais é um indicador crucial da crise climática global, alertando para a urgência de ações para preservar esses ecossistemas vitais.
Fonte: © TNH1