Manifestações decorrentes da carência de alimentos e longos apagões em Cuba, lembrando as históricas marchas antigovernamentais de 2021, refletem o dilema de muitas mães cubanas.
A preocupação com os alimentos necessários para alimentar sua família é constante na vida de Diana Ruiz. Todos os dias, ela enfrenta o desafio de encontrar comida para seu filho em meio à escassez e aos apagões em Cuba.
Mesmo diante das dificuldades, Diana não desiste e busca alternativas para garantir que seu filho tenha uma alimentação adequada. Ela sabe que a comida é essencial para a saúde e o bem-estar da criança, e não mede esforços para proporcionar refeições nutritivas e saborosas.
Reflexões sobre a preocupação com alimentos em Cuba
‘A primeira coisa que passa pela minha cabeça ao acordar é o que vou preparar para alimentar meu filho e, ao me deitar, penso no que posso oferecer a ele para lanchar ou tomar no café da manhã’, relata à AFP Ruiz, uma mulher de 31 anos, dona de casa e grávida de quatro meses, residente em Nuevo Vedado, uma área central de Havana.
No entanto, a situação de precariedade na qual muitas mães cubanas se encontram é um verdadeiro dilema. As reclamações por falta de alimentos, somadas aos longos apagões que assolaram a maioria dos cubanos recentemente, resultaram em manifestações significativas em 17 de março em várias cidades do país, sendo os maiores protestos desde as históricas marchas antigovernamentais de 11 de julho de 2021.
Desafios da distribuição alimentar em Cuba
As interrupções na distribuição de alimentos, aliadas à escassez de produtos básicos, têm impactado severamente a população cubana. A falta de divisas para importar todos os itens da cesta básica subsidiada tem sido um dos principais obstáculos enfrentados pelas autoridades, levando a uma queda de 35% na produção agropecuária entre 2019 e 2023, de acordo com dados oficiais.
Em um esforço para garantir a nutrição das crianças, Cuba buscou apoio pela primeira vez do Programa Mundial de Alimentos da ONU para suprir a demanda de leite, visto que enfrentou dificuldades na entrega de pão devido a atrasos na chegada de barcos com trigo e problemas em moinhos locais.
Impacto da crise econômica na disponibilidade de alimentos
Apesar de a capital não sofrer com os extensos apagões presentes em outras regiões do país, a chegada de alimentos ainda é gradual para muitos cubanos. O aumento dos preços tem sido um fator preocupante, com uma inflação crescente de 70% em 2021, 39% em 2022 e 30% em 2023, níveis que não eram vistos desde 1959, ano da revolução.
As lojas privadas passaram a vender produtos básicos, porém com preços elevados em relação aos salários médios, contribuindo para uma crise econômica sem precedentes. As sanções impostas pelos Estados Unidos têm dificultado ainda mais a situação, levando a um questionamento sobre as estruturas de mercado adotadas pelo governo cubano, que parecem não sustentar um modelo de igualdade.
Reflexões finais sobre a escassez de alimentos em Cuba
Por trás dos recentes protestos em Cuba está a escassez de alimentos e uma ruptura perceptível do pacto social entre a população e o governo comunista. A situação atual evidencia que as soluções do passado não são mais viáveis, com um modelo em crise e a necessidade de reformas para atender às demandas dos cidadãos.
Diante desse cenário, é fundamental repensar as estratégias de distribuição e produção de alimentos no país, visando garantir a segurança alimentar e o bem-estar da população cubana em meio a desafios econômicos e políticos cada vez mais complexos.
Fonte: © G1 – Globo Mundo