Investigadores da USP descobriram que 91% apresentavam alterações pulmonares persistentes de longo prazo, a fibrose afetou 33% dos casos, com evolução preocupante em 24 meses. (142 caracteres)
Passados dois anos desde a alta hospitalar, observa-se que a grande parte dos indivíduos que enfrentaram um quadro grave de Covid-19 e necessitaram de intubação estão sofrendo com sequelas pulmonares persistentes. Mesmo aqueles que pareciam ter se recuperado bem inicialmente agora estão lidando com complicações respiratórias significativas decorrentes da infecção.
Além das sequelas pulmonares de longo prazo, alguns pacientes também estão experimentando efeitos adversos em outros órgãos, como o pulmão, o que pode resultar em danos adicionais e impactar sua qualidade de vida de maneira significativa.
Estudo aponta alta incidência de sequelas pulmonares em pacientes com Covid-19 grave
Foi revelado por uma pesquisa realizada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FM-USP) que 91% dos 237 pacientes monitorados, que desenvolveram a forma grave da infecção em 2020, apresentaram alguma alteração pulmonar após dois anos. Dentre esses participantes, 58% exibiram casos de inflamação no órgão e 33% de fibrose, uma condição em que o tecido pulmonar se torna mais rígido devido a danos múltiplos, dificultando as trocas gasosas.
Em relação aos efeitos a longo prazo, cinco pacientes demonstraram melhoras nas lesões semelhantes à fibrose, enquanto 25% apresentaram piora no quadro. O estudo, publicado na revista The Lancet Regional Health – Americas, faz parte de um projeto apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Instituto Todos pela Saúde, que visa acompanhar mais de 700 pacientes por pelo menos quatro anos após a internação.
O trabalho investiga os impactos do SARS-CoV-2 em diversos aspectos, incluindo questões genéticas e os efeitos físicos, psicológicos e cognitivos, tornando-se uma das principais coortes sobre o tema globalmente. Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho, professor da FM-USP e coordenador do estudo, destaca a preocupação com a evolução para sequela pulmonar em pacientes idosos que precisaram de UTI e ventilação mecânica.
A fibrose é um ponto crítico de análise, levando os pesquisadores a considerar biópsias para investigar mais a fundo as alterações observadas por tomografia. Carvalho ressalta a importância de distinguir entre cicatrizes e fibrose em formação, visando a possibilidade de intervenções com medicamentos para bloquear a evolução do processo fibrótico.
Com mais de 200 fatores potenciais para a formação de cicatrizes e fibrose pulmonares, incluindo exposição a poeira de carvão e doenças autoimunes, como esclerodermia e artrite reumatoide, a pesquisa destaca a complexidade das sequelas pulmonares pós-Covid e a necessidade de monitoramento contínuo para intervenções adequadas.
Fonte: @ Veja Abril