Ex-presidente amplia liderança na disputa pela candidatura do Partido Republicano à Casa Branca nas próximas eleições presidenciais.
Donald Trump, conhecido pela sua personalidade polêmica e seu estilo único de fazer política, surpreendeu mais uma vez ao vencer as primárias do Partido Republicano na Carolina do Sul neste final de semana. Sua vitória o coloca em uma posição de destaque na corrida pela candidatura à presidência dos Estados Unidos em 2024.
O carismático ex-presidente dos EUA, Donald Trump, mostrou mais uma vez sua força política ao conquistar a vitória nas primárias do Partido Republicano na Carolina do Sul. Sua liderança na disputa pela candidatura à próxima eleição presidencial do país em 2024 mostra que ele continua sendo uma figura central no cenário político americano, mesmo após deixar a Casa Branca.
Donald Trump mantém liderança na disputa
A vitória de Donald Trump foi projetada pela CBS, parceira da BBC nos EUA, e por outros veículos de imprensa americanos poucos minutos após o encerramento da votação. Trump já havia vencido as primárias presidenciais republicanas de New Hampshire e de Iowa.
O resultado mostra que, apesar de ser alvo de diversas ações judiciais e de tentativas de barrar seu nome das cédulas de votação – cujo desfecho vai depender da Suprema Corte do país –, Donald Trump continua disparado na frente na corrida para conquistar a nomeação republicana.
Na temporada de primárias nos Estados Unidos, serão definidos os candidatos que disputarão a Presidência na eleição de 5 de novembro. Na votação geral, várias pesquisas mostram o ex-presidente dos EUA empatado ou até à frente de Joe Biden — o presidente democrata que deve ter seu nome confirmado para concorrer à reeleição.
Apesar de pesquisas de opinião indicarem que muitos democratas gostariam que o partido fosse representado por outro nome, os demais pré-candidatos até agora não oferecem ameaça a Joe Biden.
O sistema político americano
As eleições presidenciais americanas, realizadas a cada quatro anos, são um processo longo e complexo, que começa quase dois anos antes da votação, quando pré-candidatos costumam formar comitês exploratórios para analisar suas chances na disputa e arrecadar fundos para a campanha.
Diferentemente do Brasil, onde há várias siglas importantes, nos Estados Unidos o sistema político é dominado por apenas dois grandes partidos: Democrata e Republicano. Candidatos de agremiações menores ou independentes podem concorrer, mas não costumam ter chance. O sistema eleitoral americano é descentralizado, a cargo de cada um dos 50 Estados.
A disputa entre Donald Trump e Joe Biden
O calendário de prévias se estende até o meio do ano, quando os escolhidos para representar cada partido terão seus nomes oficializados em convenções nacionais. Os eleitores americanos não escolhem seus candidatos à Presidência de maneira direta. Nas primárias, os votos elegem delegados partidários, que se comprometem em apoiar o pré-candidato que venceu na votação dos eleitores naquele Estado.
Esses delegados irão participar da convenção nacional de seu partido. O pré-candidato que receber os votos da maioria dos delegados na convenção nacional será coroado como candidato oficial do partido. Na eleição geral, a decisão também fica a cargo de delegados, que formam o chamado Colégio Eleitoral, composto por 538 pessoas.
Chega à Casa Branca o candidato que receber pelo menos 270 votos (a maioria) do Colégio Eleitoral. Veja abaixo as principais etapas do processo eleitoral americano.
Os candidatos à presidência
A Constituição determina que qualquer cidadão americano nascido nos Estados Unidos que tenha no mínimo 35 anos e tenha vivido no país por pelo menos 14 anos pode concorrer à Presidência.
A cada eleição, centenas de pessoas preenchem o formulário da Comissão Federal Eleitoral (FEC, na sigla em inglês) para disputar o cargo, muitas em tom de brincadeira e outras de maneira séria, mas sem chances de irem adiante. Apesar da facilidade para se inscrever, disputar a Presidência americana para valer é tarefa difícil.
Candidatos que não são nomeados pelos dois grandes partidos enfrentam diversos obstáculos para incluir seus nomes nas cédulas de votação. As regras variam em cada Estado, mas costumam exigir dezenas de milhares de assinaturas de eleitores registrados.
É comum que mesmo candidatos de partidos conhecidos, mas que não fazem parte das duas siglas principais, enfrentem dificuldades para aparecer nas cédulas de todos os 50 Estados.
No caso de democratas e republicanos, a disputa para ser o representante do partido nas cédulas costuma ser acirrada, e muitos dos que anunciaram ainda no ano passado sua intenção de concorrer à nomeação já desistiram antes mesmo do início das primárias.
Entre os principais nomes que permanecem na corrida estão: REPUBLICANOS
- Donald Trump: O ex-presidente dos EUA, que perdeu a eleição em 2020 e se recusou a admitir a derrota, lidera com folga as pesquisas.
No entanto, enfrenta diversos processos na Justiça e é alvo de um esforço para barrar seu nome nas cédulas sob a acusação de que teria cometido insurreição
- Nikki Haley: Ex-governadora da Carolina do Sul e ex-embaixadora dos Estados Unidos na ONU, vem ganhando terreno nas pesquisas como possível segunda colocada
- Ryan Binkley: Empresário e pastor
DEMOCRATAS
- Joe Biden: O presidente americano é o favorito de seu partido, mas também enfrenta resistência por conta de sua idade avançada e de algumas de suas políticas.
Caso reeleito, terá 82 anos na posse
- Marianne Williamson: Autora de livros de autoajuda, que concorre pela segunda vez
- Dean Phillips: Deputado federal por Minnesota
INDEPENDENTES E DE OUTROS PARTIDOS
- Robert F.
Kennedy Jr.:
Membro da poderosa família Kennedy e sobrinho do presidente John Kennedy, é advogado ambiental respeitado, mas ganhou fama como ativista anti-vacinas. Iniciou a campanha como democrata, mas depois decidiu concorrer como independente.Algumas pesquisas dão a ele mais de 20% das intenções de voto em uma eleição geral contra Joe Biden e Donald Trump
- Cornel West: Professor universitário com passagem pelas mais prestigiosas universidades americanas e ativista progressista, concorre como independente
- Jill Stein: Médica que disputa a indicação do Partido Verde e já concorreu em 2012 e 2016.
Em 2016, foi acusada por alguns democratas de atrapalhar o desempenho de Hillary Clinton, ao atrair votos que poderiam ter ajudado a candidata democrata a vencer.
As pendências judiciais de Donald Trump
Na maioria dos anos eleitorais, o suspense em torno das primárias é sobre que candidatos ganharão ou perderão força ao longo da temporada.
Neste ano, no entanto, uma das principais questões se refere aos processos judiciais enfrentados por Donald Trump. Nas últimas semanas, vários Estados iniciaram esforços para barrar o nome de Trump das cédulas das primárias, sob a acusação de que ele teria cometido insurreição após perder a eleição de 2020.
Donald Trump não aceitou aquela derrota e, em 6 de janeiro de 2021, milhares de seus apoiadores invadiram o Capitólio, sede do Congresso americano. Alguns desses esforços já fracassaram, e outros continuam pendentes. Mas em dois desses Estados, Colorado e Maine, a Justiça estadual decidiu pela retirada do nome de Trump das cédulas.
O ex-presidente apelou, e a Suprema Corte do país anunciou que vai se pronunciar sobre a questão, com a apresentação oral de argumentos marcada para 8 de fevereiro. A decisão da Suprema Corte valerá para todos os outros Estados e será a palavra final sobre se o nome de Donald Trump pode ou não aparecer nas cédulas das primárias. Mas essa disputa não é o único problema legal de Trump.
O ex-presidente e favorito à nomeação republicana enfrenta 91 acusações em quatro processos criminais, sendo que dois deles têm chance de serem decididos antes da votação em 5 de novembro, o que poderia ter impacto na eleição. O julgamento federal sobre os esforços de Trump para permanecer no poder apesar de ter perdido a eleição de 2020 deve começar em 4 de março, em Washington.
Essa data, porém, pode mudar, e os juízes estão analisando os argumentos da defesa de que Trump seria imune porque as acusações se referem ao período em que ocupava a Presidência.
Também em março, no dia 25, deve começar em Nova York o julgamento do caso em que Trump é acusado de falsificar registros comerciais para ocultar dinheiro pago à estrela pornô Stormy Daniels e encobrir um suposto caso com a atriz. Mas essa data também pode ser adiada, dependendo do andamento do julgamento em Washington.
Em 20 de maio deve começar o julgamento federal na Flórida, em que Trump é acusado de levar documentos governamentais, muitos deles confidenciais, para sua residência privada após deixar a Casa Branca e obstruir esforços do governo para recuperar os papéis. Mas analistas acham pouco provável que esse caso seja decidido antes da eleição.
Há ainda o julgamento na Geórgia, em um caso em que Trump é acusado de interferir na eleição naquele Estado, e outros casos não criminais, entre eles um de difamação. Segundo analistas, se Trump for reeleito, os processos ainda pendentes poderão se tornar irrelevantes enquanto ele estiver no poder.
Tantos processos judiciais fazem com que Donald Trump seja novamente o foco da cobertura da imprensa durante a campanha, roubando a atenção dos adversários e garantindo a solidariedade de seus apoiadores.
Primárias e caucus
Há dois tipos de votação nas prévias que definem os candidatos de cada partido: primárias e caucus.
Os detalhes dessas prévias variam de acordo com a lei do Estado e com cada partido, que pode determinar seu próprio calendário de votação. As primárias seguem um formato de votação tradicional, no qual os eleitores escolhem seu candidato por meio de cédulas, em voto secreto, e são divididas em diferentes tipos.
Nas primárias fechadas, os eleitores só podem votar em candidatos do partido em que forem registrados. Nas abertas, podem votar independentemente do partido, mas apenas em uma das primárias, não em ambas. Em outros Estados, podem votar nos candidatos dos dois partidos.
Os caucus, como ocorre em Iowa, seguem um formato diferente, que inclui reuniões políticas realizadas em residências, escolas e outros prédios públicos, nas quais os eleitores debatem sobre seus candidatos e temas eleitorais. Ao fim das discussões, os eleitores em cada uma dessas reuniões escolhem um candidato e os delegados, que prometem apoiá-lo.
Esses delegados participam de convenções nos condados, nas quais são eleitos os delegados que irão às convenções estaduais, que por sua vez definem os delegados que irão à convenção nacional. Uma das críticas feitas aos caucus é a de que exigem que os eleitores disponham de horas para participar fisicamente dos debates, o que restringiria a participação no processo.
Depois do caucus em Iowa, a primeira primária do país aconteceu em New Hampshire. O fato de Iowa e New Hampshire, dois Estados pequenos, rurais e pouco representativos da população do país, terem peso tão importante ao abrir a temporada de prévias é criticado há anos.
Mas ambos defendem arduamente suas posições e têm leis estaduais que determinam que suas votações devem ocorrer antes das de outros Estados. Neste ano, porém, o Partido Democrata decidiu alterar seu calendário, colocando a Carolina do Sul como a primeira primária, em 3 de fevereiro. Mas New Hampshire não seguiu a determinação, e manteve sua data de votação, contrariando a decisão do partido.
Em reação, Biden retirou seu nome das cédulas na primária de New Hampshire, mas os eleitores ainda puderam votar no presidente escrevendo seu nome à mão. A mudança de calendário democrata também significa que a prévia do partido em Iowa será em um processo diferente, pelos correios, com resultado divulgado somente em março.
Uma das datas mais importantes do calendário de prévias é a chamada Super Terça-Feira, quando diversos Estados realizam votações simultâneas. Neste ano, está marcada para 5 de março, em mais de 10 Estados.
Um candidato com bom desempenho na Super Terça pode assumir a liderança na disputa e, dependendo do número de delegados conquistados, pode já garantir a nomeação antes mesmo da convenção nacional.
As convenções nacionais
As regras sobre quantos delegados cada candidato recebe variam dependendo do Estado e do partido.
À medida que vencem as primárias, os pré-candidatos vão aumentando sua contagem de delegados, e muitas vezes alcançam a maioria necessária para a nomeação antes mesmo da convenção nacional. Neste ano, a Convenção Nacional Republicana será realizada de 15 a 18 de julho em Milwaukee, no Estado de Wisconsin. A Convenção Nacional Democrata ocorre de 19 a 22 de agosto, em Chicago.
Durante as convenções, os delegados do partido votam nos nomes escolhidos pelos eleitores de seus Estados, oficializando a escolha do candidato a presidente. Os nomeados também anunciam oficialmente o vice de sua chapa, muitas vezes escolhido entre os pré-candidatos derrotados.
As convenções servem ainda para salientar a agenda política de cada partido, e muitas vezes são palco para que novas estrelas em cada partido ganhem projeção nacional.
Estados decisivos nas eleições de 2022
A partir da oficialização de seus nomes, os candidatos de cada partido se lançam na reta final da campanha, que inclui viagens por todo o país e debates transmitidos pela TV.
É comum que os Estados americanos sejam fortemente democratas ou republicanos, e nesses locais os candidatos do partido dominante costumam vencer sem problemas. Mas em alguns Estados, nenhum dos partidos tem maioria clara na preferência dos eleitores, o que os torna mais competitivos e cruciais para uma vitória e faz com que sejam foco importante das campanhas.
Esses Estados são chamados de swing states, ou ‘Estados pêndulo’, porque a cada eleição podem pender para um lado diferente, elegendo um democrata ou um republicano. Neste ano, entre os principais swing states estão Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Minnesota, Nevada, Pennsylvania e Wisconsin.
A votação nas eleições presidenciais americanas
O voto é facultativo nos Estados Unidos, e cidadãos com idade de 18 anos ou mais podem votar. Mais de 158 milhões de pessoas votaram na eleição presidencial de 2020, o equivalente a 62,8% da população em idade eleitoral.
A lei determina que as eleições presidenciais sejam realizadas sempre ‘na terça-feira seguinte à primeira segunda-feira de novembro’, que neste ano cai no dia 5 de novembro. O dia de votação não é feriado, mas os eleitores americanos têm outras opções além do comparecimento às urnas na data marcada. Dependendo do Estado, podem antecipar seu voto ou até votar pelo Correio.
Além do presidente e do vice-presidente, neste ano os americanos também irão eleger governadores de 11 Estados e dois territórios e prefeitos de dezenas de cidades, além de outros cargos estaduais e locais. Também estão
Fonte: © G1 – Globo Mundo