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Fernando Goldsztein criou “MBI: Soluções” – projeto de financamento para maior mudança diagnóstico e tratamento de meduloblastoma, incluindo terapias experimentais contra recidiva e desenvolvimento da pesquisa.
Uma experiência marcante em minha jornada foi vivenciada em 15 de março de 2018, quando fui confrontado com a realidade dolorosa de que minha irmã mais nova, Sofia, aos 12 anos, estava enfrentando um grave problema de saúde. Diagnosticada com leucemia, uma doença que afeta o sangue e a medula óssea, fiquei mergulhado em um mar de incertezas e medos. A busca pela cura se tornou nossa prioridade máxima, impulsionando-nos a explorar todas as opções disponíveis para garantir o bem-estar de Sofia.
Em meio às dificuldades e desafios, encontrei conforto nas palavras de esperança dos médicos, que nos asseguraram que a cura era possível com o tratamento adequado. A jornada em direção à cura exigiu coragem, determinação e amor incondicional, mas cada pequena vitória ao longo do caminho nos mostrou que a cura e a healing são processos complexos, porém alcançáveis com fé e perseverança.
Em Busca da Cura
Não é algo que tenha relação com histórico familiar, é uma questão de acaso. O diagnóstico é realizado por meio de uma ressonância magnética após o paciente começar a manifestar sintomas como dor de cabeça, vômitos e visão dupla. O tratamento inclui cirurgia, radioterapia e quimioterapia. E a doença ainda não possui cura. Digo ‘ainda’ porque é algo que irei descobrir. Deveria ser proibido uma criança ter câncer. Se já é triste entre adultos, imagine em alguém que tem toda uma vida pela frente. Ainda em 2015, o Frederico passou por uma cirurgia e, no ano seguinte, nos mudamos para Boston, nos Estados Unidos, onde ele foi submetido a um tratamento acompanhado por um dos maiores especialistas em tumores cerebrais pediátricos, o médico Roger Packer, do Children’s National Hospital. Um terço dos pacientes enfrenta recidiva. Foi o que aconteceu com meu filho. O tumor retornou em 2019 e ele participou de dois estudos clínicos com terapias experimentais nos EUA. Em 2021, em conversa com o doutor Packer, compreendi que realmente não havia mais nada que a medicina pudesse oferecer para tratar meu filho e outras crianças com a doença. Eles foram deixados para trás, submetidos até hoje a um protocolo terapêutico antigo, criado na década de 1980, que é ineficaz, tóxico e causa sérias sequelas. A única maneira de tentar mudar essa realidade é investir na ciência. Realizei, então, uma doação de 3 milhões de dólares à instituição de Packer para acelerar a pesquisa e o desenvolvimento de soluções contra esse tumor. Impressionado com o que ele me apresentou, fundei o The Medulloblastoma Initiative (MBI), iniciativa filantrópica que busca recursos privados para a pesquisa em meduloblastoma e financia um consórcio com treze laboratórios, reunindo os melhores cientistas do mundo — profissionais que atuam nos EUA, no Canadá e na Alemanha — para colaborar de forma conjunta e sinérgica sob a coordenação de Packer. Veja, eu precisava fazer algo. Sempre residi no Rio Grande do Sul, sou empresário do ramo da construção civil e, além do Frederico, tenho outro filho, o Henrique. Assim, encontrar a cura dessa doença se tornou a missão da minha vida. E estamos progredindo rapidamente. Em três anos, conseguimos aprovar dois ensaios clínicos para tratamentos inovadores baseados em imunoterapia na FDA (Food and Drug Administration, a agência regulatória americana), algo inédito, extraordinário e resultado de um intenso trabalho colaborativo. Atualmente, os investimentos já totalizam 10 milhões de dólares e continuo acompanhando tudo de perto. Vamos iniciar os testes nos primeiros pacientes nos EUA e, se for bem-sucedido, traremos a pesquisa para o Brasil, em primeira mão. Quanto ao meu filho, em 2022, o câncer retornou mais uma vez, mas ele passou por uma cirurgia para a remoção do tumor e está bem. Aos 17 anos, segue em tratamento. Felizmente, leva uma vida normal, algo distinto de tantos outros jovens que, devido a tratamentos obsoletos, sem possibilidade de buscar outras alternativas, podem apresentar efeitos colaterais.
Fonte: @ Veja Abril