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Mestre e doutor em Oftalmologia da Unifesp (Escola Paulista de Medicina), presidindo Coalizão Saúde e Einstein Etarismo conselho: envelhecimento rápido, culturais, saúde condições, avanços em medicina, profissionais formação, econômicas preocupações, desafios sociais para idosos ter acesso a eficaz atendimento.
O envelhecimento da população brasileira é um fenômeno em constante crescimento. Segundo dados recentes, a parcela de pessoas com mais de 60 anos no país atingiu a marca de 15,6%, indicando um aumento significativo em relação a anos anteriores. O processo de envelhecimento é uma realidade que impacta diversos setores da sociedade, demandando adaptações e novas políticas públicas para atender às necessidades dessa parcela da população.
Nesse contexto de mudanças demográficas, a terceira idade ganha destaque como um grupo cada vez mais relevante na sociedade. A qualidade de vida dos indivíduos na velhice torna-se uma pauta essencial, exigindo um olhar atento e cuidados específicos para garantir o bem-estar e a inclusão social dos idosos. O desafio atual é promover um envelhecimento saudável e ativo, proporcionando oportunidades e suporte adequado para essa parte crescente da população.
Reflexões sobre o envelhecimento e a terceira idade
O aumento significativo da população brasileira na chamada ‘melhor idade’ reflete não apenas melhorias nas condições de saúde em geral, mas também os avanços notáveis da medicina, que permitem estender cada vez mais a longevidade. No entanto, as mudanças demográficas de tal magnitude trazem consigo uma série de desafios, sejam eles econômicos, sociais, urbanísticos ou relacionados a políticas públicas.
Será que o país está devidamente preparado para lidar com uma população envelhecida em crescimento? Infelizmente, parece que, por ora, a resposta é negativa. Focando especificamente na área da saúde, é inegável o progresso impressionante em campos como genética, robótica e medicina personalizada, que ampliam consideravelmente o leque de recursos disponíveis para combater doenças típicas da terceira idade.
No entanto, é notável a escassez de discussões sobre aspectos comportamentais, cognitivos e de adaptabilidade. Existe uma preocupação excessiva em tratar as enfermidades dos idosos, mas será que estamos formando profissionais capacitados para se relacionar e interagir com essa parcela crescente da população?
Essa reflexão nos leva a questionar um padrão cultural arraigado que precisa ser superado se quisermos promover avanços reais na forma como acolhemos nossos idosos: ainda persiste a dificuldade em enxergar a velhice não como um problema a ser resolvido, ou pior, como uma doença a ser curada, mas sim como uma etapa natural da vida – que, vale ressaltar, para a maioria das pessoas, será mais longa que a infância.
Assim como qualquer outra fase da vida, a velhice possui características próprias que demandam atenção e cuidado por parte dos profissionais de saúde. Atualmente, observamos uma abordagem limitada nas faculdades de medicina e nos hospitais, que priorizam o estudo e tratamento de casos complexos, negligenciando cuidados simples e diários capazes de melhorar a qualidade de vida dos idosos.
Em um contexto de envelhecimento populacional, essa abordagem pode resultar em caos. Portanto, a melhoria da saúde dos idosos passa necessariamente pela eliminação do preconceito relacionado à idade, conhecido como etarismo. Imagine a seguinte situação: um professor solicita a uma turma de universitários que descrevam, sem filtros, as palavras que associam à palavra ‘velho’.
As respostas frequentemente incluem termos como ‘fraco’, ‘doente’, ‘lento’ e ‘solitário’. No entanto, ao utilizar a palavra ‘ancião’, as percepções mudam para ‘sábio’, ‘experiente’ e ‘líder’. Esse experimento, realizado na Universidade da Califórnia, ilustra a importância de desconstruir estereótipos negativos associados à velhice.
A geriatra Louise Aronson, em seu livro ‘Além da envelhescência’, propõe uma nova abordagem ao envelhecimento, comparando-o ao ‘terceiro ato’ da vida, repleto de riquezas e experiências, e não como uma fase indesejada. Essa visão desafia os profissionais da área a considerarem a velhice sob a ótica dos cuidados efetivos em saúde, da qualidade de vida e da integração social, representando um passo crucial no enfrentamento dos desafios culturais e sociais decorrentes do envelhecimento da população.
Fonte: @ Veja Abril