Semanas atrás, Casas Bahia pediu recuperação extrajudicial após Americanas. Na época de grandes escalas, é seguro investir no varejo brasileiro, com sua situação complicada, visibilidade reduzida, concorrência intensa e juros cortados? Domina o setor, mas chances de ser o vencedor se todos são afetados?
Após o incidente envolvendo a Americanas e o Grupo Casas Bahia, surge a preocupação no comércio brasileiro sobre o futuro dos investimentos no setor. A instabilidade financeira dessas grandes empresas abala a confiança dos investidores, tornando o cenário ainda mais arriscado para quem busca investir no varejo nacional. Nesse momento, é preciso cautela e análise minuciosa para escolher onde alocar os recursos e evitar surpresas desagradáveis.
Os desafios enfrentados pelas gigantes do comércio refletem nas oscilações dos mercados financeiros, causando impacto em diversos setores. Diante desse panorama, os varejistas precisam se reinventar e adotar estratégias inovadoras para se manterem competitivos. A era digital exige uma abordagem ágil e criativa para se destacar no comércio eletrônico, conquistando a confiança dos consumidores e dos investidores.
Expansão no Horizonte: Oportunidades de Investimento no Comércio
Será que é hora de expandir os horizontes e investir nas ações dos grandes grupos internacionais do setor brasileiro? Para analistas do mercado financeiro, a estratégia faz todo sentido. São esses grupos que estão tomando a fatia do mercado das varejistas por aqui e avançando em diversos países. Um exemplo marcante é a invasão da plataforma de comércio eletrônico de Cingapura, a Shopee, que desembarcou no Brasil em 2022. Apenas três anos depois, seu aplicativo já lidera a atividade de usuários em aplicativos de varejo no país, mostram dados da gestora Schroders.
O app da Shopee é seguido de perto pelo argentino Mercado Livre e pela gigante Amazon, que desfrutam de posições consolidadas nos mercados latino-americano e norte-americano, respectivamente. A distância entre a atividade de usuários desses três aplicativos estrangeiros e das Casas Bahia e Americanas é bastante significativa.
Pablo Riveroll, diretor de renda variável da gestora britânica Schroders, ressalta que, sem a escala desses grupos internacionais, a competição se torna extremamente complicada. Guilherme Belizzi Motta, estrategista de BDRs da corretora do Santander, reitera essa visão e caracteriza a competição desses gigantes estrangeiros como ‘desleal’.
Para Motta, a situação complicada é explicada pelos altos custos de capital no Brasil, reflexo dos juros elevados. Os players internacionais conseguem captar recursos a custos mais baixos nos mercados internacionais, além de desfrutar de maior visibilidade ao serem listados nos Estados Unidos.
Em um cenário de corte dos juros, as empresas de varejo nacionais podem se beneficiar e proporcionar retornos atrativos aos investidores, na opinião de Motta. Entretanto, para investimentos de longo prazo, as varejistas brasileiras perderam força. ‘Os grandes grupos tendem a ter desempenho superior ao longo do tempo. O comércio eletrônico, no futuro, será dominado por esses grupos, que consolidarão o setor em uma região. No segmento, o ‘vencedor tende a levar tudo”, conclui o estrategista.
Argumentos a Favor e Contra Investir nas Ações dos Grandes Players do Mercado
Mercado Livre (MELI)
Fundado na Argentina e com sede no Uruguai, o Mercado Livre obtém 40% de sua receita no Brasil, tornando-se a maior empresa de comércio eletrônico do país. Motta, do Santander, destaca que a plataforma é a mais beneficiada com a atual crise enfrentada pelas varejistas brasileiras. Mesmo a Magazine Luiza, ele observa, tem uma estrutura de capital mais frágil e não consegue manter o mesmo patamar de investimentos do passado.
O estrategista realça a eficiência da execução dos negócios da empresa. ‘O lucro do Mercado Livre está em constante ascensão, assim como os resultados de seu segmento de publicidade. O que realmente o destaca da concorrência é, sobretudo, sua logística eficaz, com entregas no mesmo dia. Seus clientes confiam na empresa para cumprir os prazo, o que os fideliza’.
O Mercado Livre apresentou seus resultados do primeiro trimestre na semana passada. Para os analistas do BTG, os números exibidos revelaram ‘um desempenho sólido, mesmo considerando a exposição à Argentina’, reafirmando o Mercado Livre como a principal escolha entre as ações do setor. A tendência de que o ‘vencedor leva tudo’ parece se confirmar, à medida que os grandes grupos internacionais dominam o cenário do comércio eletrônico.
Vale a pena ficar de olho nesse mercado em constante evolução e considerar as oportunidades de investimento oferecidas pelos grandes players do setor. O futuro do comércio eletrônico certamente reserva transformações significativas, e estar bem posicionado para acompanhar essa tendência pode ser a chave para o sucesso no mundo dos investimentos.
Fonte: @ Valor Invest Globo