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Na cidade central, pelo menos 4 vezes ocupações de prédios abandonados por famílias afetadas por enchentes atuais e históricas dos últimos dez anos. Desalojados novamente, carecendo de moradia, leilão iminente, reforma, população perdeu tudo – ocupações explosivas, lutam e acolhem novamente famílias.
A prática de ocupar prédios abandonados tem se tornado cada vez mais comum em diversas cidades ao redor do mundo. Em São Paulo, por exemplo, grupos de ativistas têm utilizado edifícios desocupados para criar espaços de convivência e cultura, promovendo a ocupação como forma de resistência e manifestação social.
Essas ocupações em prédios abandonados representam uma tentativa de dar um novo propósito a espaços urbanos subutilizados, transformando locais antes esquecidos em verdadeiros pontos de encontro e expressão artística. A ocupação de prédios desocupados não apenas busca suprir a carência de moradia, mas também evidencia a necessidade de repensar a utilização do espaço urbano, trazendo à tona questões importantes sobre direito à cidade e inclusão social.
Ocupações de Prédios Abandonados: Histórias de Famílias Afetadas pelas Chuvas
A Agência Brasil teve a oportunidade de visitar uma das ocupações de prédios abandonados, que hoje abriga em torno de 48 famílias, totalizando mais de 120 pessoas. Localizada no centro histórico, em um edifício desocupado há mais de uma década, que costumava ser o antigo Hotel Arvoredo, essa ocupação é conhecida como Ocupação Desalojados pela Enchente Rio Mais Grande do Sul.
Diferentemente das outras três ocupações recentes, essa não foi liderada por um movimento social organizado. Em vez disso, foram famílias afetadas pelas chuvas históricas e enchentes dos últimos dez anos que buscaram uma alternativa à falta de moradia e adentraram o prédio em 24 de maio. Entre os ocupantes, encontramos Liziane Pacheco Dutra e seu marido Anselmo Pereira Gomes, membros ativos da ocupação O Rio Mais Grande do Sul.
Liziane, uma faxineira de 37 anos, mudou-se com sua família para essa ocupação após a casa deles, no bairro Rio Branco, ficar completamente inundada. Ela expressou sua frustração com a situação dos prédios abandonados na cidade, questionando por que não aproveitar esses espaços ociosos para beneficiar aqueles que perderam tudo. Liziane ressaltou a importância de encontrar soluções eficazes para a população desabrigada.
As novas ocupações de prédios abandonados refletem a crescente crise habitacional em Porto Alegre. De acordo com dados da Fundação João Pinheiro, em 2019, a cidade enfrentava um déficit habitacional de mais de 87 mil residências. Esse cenário se agravou com as enchentes que desalojaram mais de 388 mil pessoas em todo o estado, conforme relatado pelo último boletim da Defesa Civil.
Carlos Eduardo Marques, um pedreiro e técnico de celulares de 43 anos, é outro morador da ocupação O Rio Mais Grande do Sul. Após perderem tudo no bairro Sarandi, Carlos e sua família não tinham para onde ir e decidiram unir-se a outras famílias insatisfeitas nos abrigos, buscando abrigo no prédio abandonado.
Carlos descreveu como a situação se intensificou à medida que mais pessoas perdiam suas casas e se recusavam a ir para os abrigos. Ele enfatizou a importância de lutar pela dignidade e de acolher aqueles que estão passando por dificuldades semelhantes. No entanto, enfrentam o desafio da empresa proprietária do prédio, que iniciou uma ação judicial contra eles, estabelecendo um prazo de 60 dias para desocupação, com término em 12 de agosto.
As famílias entrevistadas pela Agência Brasil expressaram sua resistência em ir para cidades temporárias ou abrigos, reivindicando uma solução digna para sua situação. Eles destacaram a necessidade de serem lembrados e apoiados pela sociedade em sua luta por moradia adequada. A ocupação de prédios abandonados tornou-se uma forma de enfrentar a crise habitacional e de solidariedade entre aqueles que compartilham experiências semelhantes.
Fonte: @ Agencia Brasil