ouça este conteúdo
Evento: Discutimos desafios socioambientais em roda de discussão. Termos: estilo de vida, produção, cultural, racismo, ambiental, justiça, climática, titularidade, território, quilombola, grandes proprietários, entrada, alimentos, refrigerantes, luta, viagem, Mãe Bernadete, povos originários, Cerrado preservado, mata matada.
Na pequena comunidade de Mesquita, localizada no coração de um antigo quilombo, a agricultora Elpídia Pereira Braga, de 74 anos, contempla com nostalgia a mangueira que plantou há mais de cinquenta anos. Para ela, a árvore frondosa é um símbolo vivo do passado, um testemunho silencioso das mudanças climáticas que afetaram a região. ‘Naquele tempo, as chuvas eram mais generosas’, recorda Elpídia, com os olhos cheios de lembranças.
Ao longo dos anos, o quilombo de Mesquita se transformou, adaptando-se às novas realidades e desafios. Elpídia Pereira, com sua sabedoria ancestral, continua a cuidar da terra com dedicação, preservando as tradições que sustentam a comunidade. Em meio às incertezas do futuro, a mangueira permanece firme, testemunha silenciosa da resiliência e da esperança que florescem no coração do quilombo.
Quilombo Mesquita: Desafios e Resistência
Na comunidade quilombola Mesquita, onde Elpídia passou sua vida, localizada em Cidade Ocidental (GO), os agricultores expressam preocupações devido ao uso de agrotóxicos pelos proprietários de terras vizinhas. Há um clamor uníssono pela titulação da terra, um direito fundamental para a comunidade.
A árvore plantada por Elpídia há muitos anos foi o ponto de encontro para uma roda de conversa promovida pelo Festival Latinidades, em sua edição goiana, para discutir os desafios socioambientais enfrentados pelos quilombolas. A comunidade Mesquita, situada a cerca de 50 quilômetros de Brasília, possui uma rica história de 278 anos, abrigando atualmente mais de 700 famílias e uma população de mais de três mil habitantes.
O festival, em sua 17ª edição, abordou o tema ‘Guardiões do amanhã: diálogos sobre produção cultural, racismo ambiental e justiça climática’, destacando a importância de preservar o modo de vida e a cultura quilombola em meio aos desafios atuais.
Elpídia relembra com saudade os tempos em que as chuvas eram mais abundantes, permitindo o cultivo de alimentos como arroz, que demanda um regime de chuvas prolongado. Apesar da escassez de chuvas na região Centro-Oeste do Brasil, o clima ameno da mata preservada onde vivem proporciona alguma proteção.
Os moradores da comunidade lutam contra a influência de alimentos prejudiciais, como refrigerantes, buscando incentivar o consumo de sucos naturais feitos com frutas do cerrado. Sandra Pereira, líder comunitária de 56 anos, destaca a importância da titulação das terras, totalizando 4,2 mil hectares, para garantir a segurança e a autonomia da comunidade frente à invasão de grandes proprietários.
Segundo Sandra, 40% do território é destinado à produção e subsistência, enquanto o restante é preservado como Cerrado. A liderança do Quilombo Mesquita, Sandra Pereira Braga, ressalta a necessidade urgente de titulação das terras para proteger o modo de vida e a cultura quilombola.
A luta pela titulação das terras é uma batalha constante para garantir a segurança e a permanência das famílias quilombolas em seus territórios ancestrais. A preservação do Cerrado e a resistência contra a invasão de grandes proprietários são desafios enfrentados diariamente pela comunidade.
Sandra Pereira Braga, liderança do Quilombo Mesquita, destaca a importância da preservação ambiental e da justiça climática para garantir um futuro sustentável para as gerações vindouras. A produção de hortaliças em meio ao cerrado preservado é um exemplo da harmonia entre a comunidade e seu ambiente.
A expectativa de Sandra é que a titulação das terras seja concretizada em breve, assegurando o respeito e a proteção do modo de vida quilombola. A memória de Mãe Bernadete, uma defensora dos direitos dos povos originários, permanece viva na comunidade, inspirando a continuidade da luta por justiça e igualdade.
Os agricultores da comunidade Mesquita valorizam os saberes ancestrais da agroecologia, cultivando plantas nativas e respeitando o meio ambiente. A mandioca é um dos principais produtos cultivados, resistindo às adversidades climáticas e sendo apreciada tanto localmente quanto fora da comunidade.
A conexão com a terra e a valorização dos alimentos tradicionais são pilares fundamentais da identidade quilombola, transmitidos de geração em geração. A resistência contra as ameaças externas e a busca pela justiça são marcas da comunidade quilombola Mesquita, que permanece firme em sua luta por reconhecimento e autonomia.
Fonte: @ Agencia Brasil