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País vive crise pós-eleições: movimento populista bolivariano de massas ativa contra políticos, alta dívida social. PDVSA, burocracia petroliera: setores importação/exportação industriais, reapropriação de renda petroliera, transnacionais pressionam. Projeto: mudar isso.
A violência política tem sido uma triste realidade na Venezuela ao longo dos anos, refletindo os embates entre diferentes facções políticas que buscam impor suas ideologias e interesses.
Além disso, a violência tem contribuído para aprofundar o conflito e a polarização na sociedade venezuelana, tornando ainda mais difícil encontrar uma solução pacífica e duradoura para os problemas enfrentados pelo país.
Violência e Conflito na Venezuela
Essa é a análise da professora Carla Ferreira, do departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que elaborou sua tese de doutorado sobre a classe trabalhadora no processo bolivariano da Venezuela, tendo realizado seis visitas ao país entre 2002 e 2013, período em que teve a oportunidade de dialogar com lideranças chavistas, do governo e de movimentos populares. Para ela, a Venezuela não pode ser caracterizada como uma ditadura, mas sim como um sistema político distinto das democracias liberais representativas que são referência no Ocidente. Além disso, destaca que a extrema-direita venezuelana é mais propensa à violência do que a brasileira, e que a dinâmica de polarização interna e a interferência de potências estrangeiras – especialmente dos Estados Unidos – resultaram em uma centralização do poder e em uma burocratização do governo.
Carla Ferreira também aborda o papel das Forças Armadas e expressa grande preocupação com o reconhecimento, por parte dos EUA, de uma suposta vitória do candidato opositor Edmundo Gonzalez, o que sinalizaria um interesse em intervir na Venezuela, podendo acarretar em desestabilização em toda a América Latina.
As Origens do Conflito Político na Venezuela
A professora destaca que a raiz desse conflito remonta ao colapso do capitalismo petroleiro rentista venezuelano nos anos 70, desencadeando uma crise profunda com sérias repercussões sociais, como a revolta popular de 1989, conhecida como Sacudón ou Caracazo. A crise deu origem a um movimento bolivariano popular de massas, com a população mais empobrecida do país desempenhando um papel central, em colaboração com uma ala reformista das Forças Armadas, de onde emergiu a liderança de Hugo Chávez. Esse movimento elaborou um projeto político para enfrentar a crise, buscando resolver as questões sociais por meio da redistribuição da renda petroleira, que até então era majoritariamente apropriada por empresas transnacionais do petróleo, principalmente dos EUA.
A partir desse ponto, o conflito entre o projeto do movimento bolivariano popular de massas e os interesses norte-americanos na região se intensificou. No entanto, os interesses dos EUA se entrelaçam internamente com a antiga burocracia do petróleo que controlava a PDVSA, além dos setores de importação e exportação de produtos industriais, que formam a base da oposição venezuelana. Assim, esses dois projetos antagônicos são a origem da crescente polarização política na Venezuela.
A Persistência da Violência e dos Conflitos na Venezuela
Quanto à resolução pacífica dos conflitos, Carla Ferreira ressalta que a extrema-direita venezuelana adota métodos semelhantes aos observados em outras partes do mundo, como o bolsonarismo no Brasil. A diferença está na escala da violência e da polarização política na Venezuela, que tem sido marcada por tentativas de golpe, como o ocorrido em 2002, o lockout petroleiro em 2002 e 2003, bem como diversas insurreições, como as de 2014 e 2017. A persistência desses conflitos reflete a complexidade da situação política no país, com interesses internos e externos em jogo, alimentando a violência e a instabilidade.
Fonte: @ Agencia Brasil