Banishers Ghosts of New Eden será lançado em 13 de fevereiro para Xbox Series, PlayStation 5 e PC, com dublagem e protagonistas envolventes.
Quase ninguém se recorda, mas a produtora francesa Don’t Nod começou sua trajetória no gênero de ação em 2013 com o game de ação Remember Me. De maneira irônica, muito poucos se lembram do título que acabou sendo um fracasso retumbante em termos de vendas. Pouco tempo depois do lançamento de seu primeiro jogo, a empresa estava próxima da falência.
Além de lidar com os desafios de criar um novo jogo, a Don’t Nod também teve que lidar com maldições que pareciam pairar sobre sua estreia no mercado de games. As escolhas feitas pela empresa foram cruciais para determinar seu destino, e enfrentar esses obstáculos acabou moldando a trajetória da produtora de forma inesperada.
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Banishers: Ghosts of New Eden: O marco da Don’t Nod com uma narrativa envolvente
Graças a um milagre de gestão e um bom pitch à Square Enix, Dontnod conseguiu sobreviver por mais tempo até lançar seu verdadeiro primeiro sucesso em 2015 com Life is Strange. Desde então, demorou para o estúdio tentar sair dos moldes dos jogos narrativos de aventura até tentar um novo projeto ousado no RPG com Vampyr em 2018.
Ação em Banishers: Ghosts of New Eden
Agora em 2023, o estúdio ainda independente lança seu jogo mais ambicioso até então com Banishers: Ghosts of New Eden. Como é de se esperar do maior ponto forte da Don’t Nod, a narrativa de Banishers é um de seus pontos fortes. Aventura acompanha os banidores profissionais Antea Duarte e Red Mac Raith.
Eles chegam ao Novo Mundo pela primeira vez em suas vidas para atender o pedido de um antigo amigo chamado Charles. Uma maldição bizarra e cruel se instalou em New Eden, tornando a vida de todos que lá moram totalmente miserável e sombria. Entretanto, quando a dupla chega, rapidamente descobrem que a assombração que deve ser banida é muito perigosa.
Personagens principais e as escolhas em Banishers: Ghosts of New Eden
Em seu primeiro confronto, Antea acaba morrendo com Red escapando por um triz e muita sorte. Ao recobrar a consciência, Red está em outra parte da costa da Nova Inglaterra (os EUA antes da independência). Ele descobre que Antea ainda está presa ao mundo material.
Conseguindo se comunicar com a esposa morta, Red também descobre novos poderes e formas de lidar com espíritos e maldições, decidindo então retornar até New Eden e se livrar de uma vez do Espectro maldito que matou sua amada.
Entretanto, no meio dessa longa jornada, Antea e Red se deparam com diversas histórias que também estão conectadas com a maldição de New Eden, devendo escolher o destino de diferentes personagens para construir um futuro ambíguo para a própria Antea.
Mecânicas e missões em Banishers: Ghosts of New Eden
Logo, uma das maiores mecânicas do jogo está totalmente ligada ao desfecho da narrativa, com a história podendo variar em um final bom ou ruim a depender das escolhas dos protagonistas. As escolhas sempre se apresentam ao final de algumas missões principais e das missões secundárias.
Surpreendentemente, o mapa aberto de Banishers é bem grande, distribuindo diversas atividades, além de missões, ao longo dos territórios que visitamos. Inspirados pelo trabalho da CD Projekt Red com The Witcher 3, a Don’t Nod capricha nas histórias secundárias instigando o jogador a completá-las para descobrir o desfecho de cada história.
God of War e jogos de ação
É evidente que nem todas são dignas de um Oscar, mas são mais imaginativas que a maioria de outros jogos, traçando mistérios para os banidores desvendarem e lidarem com as consequências disto. É mesmo muito próximo da experiência dos contratos de bruxo de The Witcher. Pode não ser original, mas é eficiente.
As recompensas também são boas, ajudando a subir de nível, além da conquista de bons itens e pontos de habilidades para Antea. Ironicamente, a parte mais fraca do jogo está em seus protagonistas. Vendido como uma história trágica de amor, com Red ficando obcecado em trazer Antea de voltar à vida, a realidade é bem diferente disto.
Red não fica muito abalado com a morte da esposa e trata o fantasma de Antea com absoluta normalidade. Não ajuda também o fato deles não terem nenhuma química como casal, nunca interagindo com muita leveza e ternura. Isso se dá mais pelo fato de Antea ser mais uma dessas ‘personagens femininas fortes e empoderadas’.
A luta contra o tédio em Banishers: Ghosts of New Eden
Mais uma vez os roteiristas erram a mão em tornar Antea bastante masculinizada na forma de falar e agir, sempre se provando como uma líder capaz e forte, além de sempre mandar em Red que obedece resoluto. Ao enfiar mais uma vez a bendita da ‘mensagem’, a Don’t Nod perde a chance de criar protagonistas mais interessantes e originais.
Uma pena, já que se trata de um desperdício notável, pois a mitologia construída sobre os banidores e as pragas sobrenaturais que eles caçam é bem elaborada no material de leitura complementar espalhado ao longo da campanha. A história só não se torna monótona por causa das surpresas que revela justamente sobre o ofício bizarro dos protagonistas.
Soulslike e Santa Monica Studio em Banishers: Ghosts of New Eden
Mais uma vez a Focus Entertainment ajuda a financiar um projeto que descaradamente se vale do mesmo design de jogo de God of War. Dessa vez, a inspiração é tão forte que chega a ser a base de 90% do jogo. Pouco habituada ao gênero de ação, a Don’t Nod resolveu seguir o caminho muito bem pavimentado pela Santa Monica Studio.
Assim como God of War, temos um mundo aberto expansivo que é todo conectado em corredores espaçosos que oferecem um sentimento de linearidade, apesar do jogador sem livre para explorar o mapa à vontade.
Diversos recursos ficam disponíveis para coleta e são necessários para aprimorar os itens, melhorando seus atributos e nível de raridade (exatamente igual a God of War e aos Assassins Creed mais recentes).
Novas mecânicas e fatores técnicos
Outras armas melhores também podem ser encontradas pelo mapa que possui também diversas passagens seladas que poderão ser abertas posteriormente com novas habilidades de Antea e Red, inserindo também o elemento metroidvania das novas aventuras de Kratos. O combate se dá através dos botões R1 e R2 alternando entre golpes leves e pesados.
Algumas horas adentro, o jogador também ganha um mosquete que ajuda, além de função óbvia de obliterar inimigos, a resolver alguns quebra cabeças de ambiente. Bebericando da onda inaugurada por The Médium e aprimorada em Lords of the Fallen, Banishers também conta com mudanças espontâneas de perspectiva.
Experiência no mundo dos vivos e dos mortos
Ao pressionar Triângulo ou Y, o jogador alterna o controle entre Red, no mundo dos vivos, e Antea, que observa e interage com o ambiente através do véu dos mortos. Aqui, as cores são mais vibrantes, além de alguns segredos do mapa se revelarem.
A habilidade de trocar de personagem instantaneamente é encorajada também no combate, com Red e Antea aplicando mais dano a determinados tipos de inimigos que se alternam entre espectros e possessões. Infelizmente a variedade de inimigos é baixa e ao longo das 17 horas de campanha, os episódios de Combate se tornam maçantes.
Progresso e desafios em Banishers: Ghosts of New Eden
Para apimentar um pouco o combate, Antea ganha habilidades únicas, além de Red poder usar um poder especial de banimento que proporciona alto dano aos inimigos, se tornando bem interessante de usar contra chefes de fase (essas batalhas são sim bem elaboradas). Um método de viagem rápida também existe e até mesmo isso é inspirado em outros jogos. No caso, Elden Ring e outros soulslike.
As fogueiras que Red acende pelo caminho são os pontos de viagem rápida, além de permitir descansar para reestocar poções (e trazer inimigos de volta ao mapa) e aprimorar itens e habilidades. Não é muito original, mas funciona.
Escolhas e criação de habilidades em Banishers: Ghosts of New Eden
Onde os desenvolvedores usaram mais a criatividade está justamente nas escolhas de compras de novas habilidades, com Red e Antea podendo escolher uma opção em duas em cada árvore que é disponibilizada. Além disso, também existem os rituais que permitem evocar memórias, espíritos, flagelos (inimigos monstruosos) e transitar também no Vazio (local onde os espíritos banidos são jogados).
Em termos técnicos, Banishers não está tão polido quanto deveria. Isso não se trata da performance do jogo, que é bastante leve com gráficos signos da geração passada (o que é um mistério esse título ser exclusivo da nova geração), mas sim de bugs de progresso.
Valores e conclusão sobre Banishers: Ghosts of New Eden
Ao longo da minha jogatina, fiquei preso por diversas vezes em locais do mapa por problemas de programação, com um evento não acontecendo e travando o progresso. Somente após minutos e alguns reloads que a falha se corrige. O mesmo pode ser dito para bugs de exploração também, com falta de clareza de objetivos na bússola do mapa para orientar o jogador.
Fora isso, existem muitas paredes invisíveis dentro dos corredores propostos pelo jogo, tornando a experiência de mundo ‘aberto’ muitas vezes limitada.
Enquanto em texturas e iluminação o jogo mostra certo capricho, temos diversos extremos na qualidade das animações faciais e sincronia labial não só dos protagonistas mas principalmente dos personagens secundários que interagimos ao longo do jogo, afetando bastante na imersão de uma proposta de narrativas fortes como Banishers apresenta.
Infelizmente isso também se estende para a dublagem, até mesmo dos protagonistas no caso de Antea que conta sempre com uma voz monótona e profundamente sem graça de sua atriz. Para os jogadores de PC, felizmente o título é bem funcional, além de contar com o auxílio sempre bem vindo do DLSS 3 que, a depender da placa, dispara os fps para além de 120 quadros até mesmo em 4K.
Banishers: Ghosts of New Eden é divertido e interessante o suficiente para valer a sua jornada (mesmo que os protagonistas não ajudem muito). A mitologia criada pelo estúdio é bem rica e interessante, além das histórias secundárias trazerem reviravoltas ousadas e sombrias.
Com muito conteúdo inspirado por God of War, é uma boa decisão, pois deixa o game design bastante funcional, além da habilidade de trocar de protagonista instantaneamente por ser divertida, com um uso criativo.
Reflexão e futuro de Banishers: Ghosts of New Eden
Oferecendo muitas horas de conteúdo, principalmente pelo fator replay que é encorajado pelos múltiplos finais, Banishers é uma boa experiência, mas é preciso ter expectativas realistas de que se trata de um título que ainda precisava de mais refinamento.
Torço para que a próxima aventura da Don’t Nod nesse gênero desafiador de jogos de ação consiga um orçamento mais generoso para qualquer amarra criativa ser menos evidente. Apostar no seguro é uma boa ideia para retorno comercial garantido, mas às vezes, a ousadia também consegue aliar um marco histórico com sucesso comercial.
Avaliação: 3.5 de 5. Agradecemos à Focus Entertainment pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.
Fonte: © HIT Site