Ucraniana naturalizada japonesa devolve coroa após polêmica com homem casado, reacendendo debate sobre identidade japonesa. Carolina Shiino, primeira mulher a receber a cidadania japonesa.
A coroação de Carolina Shiino como Miss Japão 2024 foi um marco histórico para o concurso de beleza no país. Foi a primeira vez que uma mulher ganhou o título sem ter nascido no Japão ou ter ascendência japonesa. O momento da coroação, no qual Shiino recebeu a faixa e coroa num hotel em Tóquio, foi marcado pelas lágrimas de felicidade da jovem de 26 anos, que expressou sentir-se como se estivesse vivendo um sonho.
Shiino, a vencedora de 26 anos, agora é reconhecida como a rainha da beleza entre as participantes do concurso Miss Japão. A sua conquista representa um importante avanço no que diz respeito à inclusão e diversidade no mundo dos concursos de beleza, e serve como inspiração para jovens mulheres ao redor do mundo. A coroação de Carolina Shiino como Miss Japão 2024 é um momento que ficará marcado na história do concurso.
Miss Japão: Uma História de Superação
Shiino sentia que tinha que superar barreiras para ser aceita como japonesa. Ela diz: ‘Tive que superar barreiras, que frequentemente me impediram de ser aceita como japonesa. Por isso, sou extremamente grata por ser aceita como japonesa nesta competição.’
Apesar disso, assim que foi coroada, as redes sociais no Japão foram imediatamente inundadas por um debate sobre o direito de Shiino de reivindicar o título. Entre os apoiadores, o argumento se concentrava sobretudo no fato de a vencedora ter cidadania japonesa; já entre os críticos, era levantada a questão da etnicidade.
A Trajetória de Miss Japão da Ucrânia para o Japão
Shiino, nascida em 1998 em Ternopil, no oeste da Ucrânia, mudou-se para o Japão aos cinco anos de idade, depois que sua mãe se casou com um japonês. Ela diz se sentir ‘linguística e mentalmente’ japonesa. Em meio à polêmica sobre suas raízes estrangeiras, a jovem renunciou ao título depois que uma revista japonesa publicou uma matéria sobre o envolvimento dela com um homem casado.
Shiino admitiu o relacionamento e pediu desculpas publicamente. O escândalo reacendeu a onda de críticas contra a jovem nas redes sociais. A controvérsia provocada, no entanto, não deve ter sido nenhuma surpresa para ela, já que o país já havia sido palco de discussão semelhante nove anos atrás, quando Ariana Miyamoto se tornou a primeira mestiça a ser coroada Miss Japão.
O Concurso Miss Japão e o Debate sobre Identidade Japonesa
A identidade japonesa é tradicionalmente definida através da aparência e não da nacionalidade. Em contraste, a ideia de que estrangeiros sem raízes japonesas, como Carolina Shiino, possam se tornar compatriotas por meio da naturalização ainda parece muito abstrata e estranha para alguns japoneses. Todos os anos, milhares de pessoas recebem um passaporte japonês, muitos deles, sem ascendência japonesa.
Para muitos, o concurso Miss Japão representa uma oportunidade única para lutar por uma sociedade onde as pessoas não sejam julgadas por sua aparência. Assim como Naomi Osaka, de mãe japonesa e pai haitiano, que é amplamente percebida como japonesa porque ‘parece’ japonesa, apesar de sua falta do domínio do idioma e a obtenção tardia de seu passaporte japonês aos 22 anos.
Shiino admite que sua aparência ocidental sempre atraiu olhares em ambientes japoneses. Em entrevista à emissora BBC, a organizadora do concurso Miss Japão, Ai Wada, disse que o júri tinha ‘total confiança’ na escolha de Shiino.
A Diversidade e a Polêmica em Torno de Miss Japão
Neste sentido, a polêmica sobre a escolha de Miss Japão não surpreendeu. Já naquela época, críticos diziam que Ariana Miyamoto não parecia ‘japonesa o suficiente’. Filha de um afro-americano, Miyamoto virou alvo de um debate sobre a possibilidade de alguém com a pele escura poder ganhar o título de Miss Japão.
Agora, o povo da nação insular terá que mais uma vez se acostumar com uma Miss Japão que pode até não parecer japonesa – mas é japonesa de coração. A questão da identidade japonesa é um tema de importância cada vez maior, sobretudo no fato de que a sociedade japonesa tem passado por mudanças significativas nas últimas décadas.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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